terça-feira, 19 de junho de 2012

Novo livro de Rubem Alves, “Pimentas – Para provocar um incêndio, não é preciso fogo” tempera as coisas simples do cotidiano


Dono de uma narrativa marcada por reflexões e atenção a pequenos detalhes, Rubem Alves lança novo livro de crônicas pela Editora Planeta. Recorrendo a lendas, mitos, poetas, compositores clássicos, pintores, filósofos e escritores, autor proporciona momentos de “incêndios” nos pensamentos, em seu melhor estilo.

Como não se deixar envolver pela narrativa de Rubem Alves, rica em reflexões tão agudas e sensíveis? Autor de mais de 80 livros, o escritor lança em junho Pimentas – Para provocar um incêndio, não é preciso fogo (Editora Planeta, 224 pp., R$ 24,90). Trata-se de uma compilação de crônicas sobre ideias e pessoas, sobre pensamentos que incendeiam a mente e que levam a outras ideias. Daí o título do livro, conforme explica o autor:

“Pimentas são frutinhas coloridas que têm poder para provocar incêndios na boca. Pois há ideias que se assemelham às pimentas: elas podem provocar incêndios nos pensamentos. (...) Mas, para se provocar um incêndio, não é preciso fogo. Basta uma única brasa. Um único pensamento-pimenta...”.
Dividido em 74 pequenos contos, reflexões que brotaram na mente sempre criativa do autor, o livro encanta por sua proximidade com a vida cotidiana de pessoas comuns. “Pois qual é o dono de cachorro que nunca olhou para os olhos de seu cãozinho e se perguntou: ‘O que será que ele pensa de mim?’”, indaga Rubem em Sobre gatos. E com a sua tônica espirituosa, prossegue: “Alguém disse que preferia os gatos aos cachorros porque não há gatos policiais”.

Religião (histórias sobre São Judas, São Jorge e até sobre o diabo), animais domésticos, noções de etiqueta, comida, gramática, literatura, poesia (o autor é um grande admirador de Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Adélia Prato e Manoel de Barros, só para citar quatro grandes poetas), saúde e doença, velhice, sexo, homens e mulheres, ciência, fé e morte. Nada escapa à mente de Rubem Alves, um observador arguto da vida e de seus pequenos momentos, possivelmente insignificantes para um olhar menos atento.

Os sabores de suas pimentas estão exatamente nas pequenas e espirituosas reflexões cotidianas:

“A privada é o lugar onde estamos sós e ninguém tem o direito de nos incomodar. Lugar de refúgio, santuário de solidão. Quando a gente está na privada, não tem de se comportar direito, não tem de prestar atenção ao que os outros estão dizendo. É um lugar de liberdade e honestidade.” (em Sobre a função cultural das privadas)

“Eram seis da manhã. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: ‘Papai, quando você morrer você vai sentir saudades?’. Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: ‘Não chore que eu vou te abraçar...’. Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade porque lá a gente fica longe dessa terra tão boa...” (em Dona Clara)

“Ao ouvir uma música que me comove por sua beleza, eu me reencontro com a mesma beleza que estava adormecida dentro de mim. (...) Eu me reencontro com a minha própria beleza. Por isso a música me traz felicidade...” (em Minha música)
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